sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Catarina, passa a cueca, velha, rasgada

Turbulências no ar. É força de expressão. Na verdade, no espaço em que navegamos o que há é o vácuo, apenas. Nada de ar, nada de gravidade, exceto a nave, eu, meu pai, o 14, e outros fantasmas. Os robôs realizam o trabalho de rotina: a manutenção preventiva automática. Isso gera um certo desconforto, como se algo estivesse errado, mesmo para nós, acostumados.

Viajamos para Andrômeda, a galáxia que está em rota de colisão com a Via Láctea, se aproximam numa velocidade de 480.000 km/h, algo em torno de 100 milhões de anos, e então não restará vestígios nenhum do que houve antes. Será como se a Terra e o Homem nunca tivessem existido.  No final, tudo acaba. Vamos para uma mera reunião informal com Julio Verne. Buscamos sua palavra final sobre a possibilidade ou não de se fazer a terra girar ao contrário. Eu presumo que não, mas meu pai e o 14 não estão totalmente convencidos (os fantasmas não opinaram, óbvio, são fantasmas).

Enquanto escrevo essas memórias, interrompendo por um instante, leio uma notícia que altera a configuração de nosso sistema solar. Plutão foi rebaixado. Se liguem, não façam associações impertinentes, estamos aqui falando do rebaixamento de Plutão para planeta anão. Ocorre-me agora, aquele ensinamento que diz: os quatro profetas maiores são três: Isaías e Jeremias. Os 9 planetas do sistema solar, na verdade, são 8. Plutão, dizem os cientistas, não gira em torno de Caronte, seu satélite, nem este em torno daquele. Ambos realizam a translação em torno de um eixo imaginário. E o conceito de planeta não se enquadra para essa dupla.


Em nossa família há vários tipos. Médicos? Nenhum. Fisicos? Nenhum. Filósofos? Nenhum. Palhaços? Vários. Dentre estes, o palhaço-mor era meu pai. Às vezes, saía com umas gracinhas, tipo: - Está demorando essa pintura? - Ué, que pintura pai? - Essa do teu cabelo.

Uns até se esforçam para falar bem da velhice, romantizam, mas a juventude, que me perdoem, tem muito mais graça. Meu pai parece que encontrou um jeito de se conduzir durante essa fase da vida. Um dia me confidenciou que o segredo era não levar mais nada a serio. Acho até que driblou bem.

Ele e a Ceni costumavam brindar seus convivas com brincadeiras, algumas surradas, é verdade, mas outras até que engraçadas.

Catarina, dizia ele, com aquele seu sorriso, passa a cueca, velha, rasgada. Ao que a Ceni, não menos brincalhona, respondia:

Aristeu, alcance-me esse pau, velho, podre.

Um comentário:

Unknown disse...

E a nós "fantasmas" restava ouvir suas imaginações e saborear o vinho q Sr.Aristeu não deixava faltar.

Viagens imaginárias com os tripulantes em torno da mesa de jantar.