terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Tablete de margarina: ficção ou realidade?

O passado pode ser uma prisão, mas pode ser também uma fonte inesgotável de histórias não escritas. Prisão, quando lembranças marcantes, mal resolvidas, ofuscam nossos horizontes. Fonte inesgotável de histórias, quando nossas construções mentais se localizam na tênue linha que funde as lembranças com a ficção.

Cinco de fevereiro de 2011. Os irmãos: Yone, Marilu, Dete, Charles, Rute, João e Jonas. Hélio, Preto, namorada do Preto e  a Clau. Comem, bebem, contam histórias e riem. Ninguém mente, ninguém declama, uns inventam... A maioria bebe vinho, alguns cerveja, porém, gelada. E a conversa se estende até as três. Percebe-se que o episódio Mazembe não foi superado. E como diz o Preto: "Para superar, só falando".

O folclórico Prefeito de SJO, Aldino Stédile, domina parte da conversa. A Rute pergunta em que período ele administrou a cidade. Ninguém sabe. O Hélio, saudosista, diz que foi o melhor prefeito que a cidade já teve. Ninguém é louco de duvidar. O certo é que as velhas piadas divertem. A piada é velha, mas a ocasião é sempre nova.

A Rute disse que o João inventou. A Yone, que foi a Isabel. O João confirma que foi verdade,  e a Isabel não disse nada, não estava no jantar. Os outros tomavam vinho e riam sem parar.

Naquele tempo, a vida corria solta na cidadezinha, mas os ventos de fartura estavam muito longe lá de casa. Razão que fez a Yone ralhar com sua irmã mais nova.
- Rute, passe uma camada de margarina no pão e chega, os outros (que chegarem primeiro) também querem provar.
A Rute, sem dar ouvidos, continuou calmamente aumentando aquela camada, dificultando saber se era pão com margarina ou o contrário.
- Agora coma esse tablete até ver o fim -  esbravejou enervada a Yone.
A Rute, agora dando ouvidos, passou a comer o tablete de margarina, sem misturas. Mas logo exclamou:
- Estou cansada.  João, coma o resto, para não assanhar as bichas - implorou.

Moral da história:

Marque a melhor opção:

a) essa história de mandar comer tudo não funciona, quando se tem um irmão chamado João que pode ajudar;

b) os mais novos sempre levam vantagem, até nos castigos;

c) a Yone não é aquela irmãzinha meiga que imaginávamos;

d) é pura invenção do João.


O Jonas na caserna.

- Soldado Jonas, tire seu capacete!
- Obrigado Senhor, mas estou bem assim.
- Soldado Jonas, tire já seu capacete, isso é uma ordem!
- Senhor, toma (jogando o capacete em direção ao superior), pegue esse capacete e enfie onde quiser!
- Soldado Jonas, você será punido por indisciplina, novamente.

Dias depois, o Jonas limpava a bicicleta.

- Soldado Jonas, você foi escalado para cortar grama, agora.
- Sim Senhor, mas antes vou terminar de limpar a bicicleta.
- Soldado Jonas, agora!
- Sim Senhor, é só terminar isso aqui.
- Soldado Jonas, você não vai mais cortar grama, vai para a solitária.

Outro dia, o Jonas fazia ronda. Manuseava absorto sua arma que, por descuido, disparou.

- Soldado Jonas, ouvi um tiro por aqui, foi você?
- Sim Senhor, fui eu.
- Atirou em quem, Soldado?
- Num vulto, Senhor. Eu falei alto lá e o vulto não parou, então atirei.
- Soldado Jonas, vou recomendar uma medalha por sua bravura.
- Dispenso, Senhor. Só quero poder limpar minha bicicleta, em paz (e completou baixinho: "seu palhaço").

Moral da história:

Um rebelde pode ser um revolucionário, mas nunca um militar. (Os militares não sabem limpar bicicleta direito hehehe).

Enquanto isso, do outro lado da cidade, para o próximo episódio:

E a Rute saiu de carona com o Jonas, de moto. Há-de-vir.



sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Catarina, passa a cueca, velha, rasgada

Turbulências no ar. É força de expressão. Na verdade, no espaço em que navegamos o que há é o vácuo, apenas. Nada de ar, nada de gravidade, exceto a nave, eu, meu pai, o 14, e outros fantasmas. Os robôs realizam o trabalho de rotina: a manutenção preventiva automática. Isso gera um certo desconforto, como se algo estivesse errado, mesmo para nós, acostumados.

Viajamos para Andrômeda, a galáxia que está em rota de colisão com a Via Láctea, se aproximam numa velocidade de 480.000 km/h, algo em torno de 100 milhões de anos, e então não restará vestígios nenhum do que houve antes. Será como se a Terra e o Homem nunca tivessem existido.  No final, tudo acaba. Vamos para uma mera reunião informal com Julio Verne. Buscamos sua palavra final sobre a possibilidade ou não de se fazer a terra girar ao contrário. Eu presumo que não, mas meu pai e o 14 não estão totalmente convencidos (os fantasmas não opinaram, óbvio, são fantasmas).

Enquanto escrevo essas memórias, interrompendo por um instante, leio uma notícia que altera a configuração de nosso sistema solar. Plutão foi rebaixado. Se liguem, não façam associações impertinentes, estamos aqui falando do rebaixamento de Plutão para planeta anão. Ocorre-me agora, aquele ensinamento que diz: os quatro profetas maiores são três: Isaías e Jeremias. Os 9 planetas do sistema solar, na verdade, são 8. Plutão, dizem os cientistas, não gira em torno de Caronte, seu satélite, nem este em torno daquele. Ambos realizam a translação em torno de um eixo imaginário. E o conceito de planeta não se enquadra para essa dupla.


Em nossa família há vários tipos. Médicos? Nenhum. Fisicos? Nenhum. Filósofos? Nenhum. Palhaços? Vários. Dentre estes, o palhaço-mor era meu pai. Às vezes, saía com umas gracinhas, tipo: - Está demorando essa pintura? - Ué, que pintura pai? - Essa do teu cabelo.

Uns até se esforçam para falar bem da velhice, romantizam, mas a juventude, que me perdoem, tem muito mais graça. Meu pai parece que encontrou um jeito de se conduzir durante essa fase da vida. Um dia me confidenciou que o segredo era não levar mais nada a serio. Acho até que driblou bem.

Ele e a Ceni costumavam brindar seus convivas com brincadeiras, algumas surradas, é verdade, mas outras até que engraçadas.

Catarina, dizia ele, com aquele seu sorriso, passa a cueca, velha, rasgada. Ao que a Ceni, não menos brincalhona, respondia:

Aristeu, alcance-me esse pau, velho, podre.

Viagens imaginárias com os tripulantes em torno da mesa de jantar.